sexta-feira, 9 de outubro de 2009

RELATO

Quando eu estava em casa pensava no que as pessoas me falavam sobre quietude e falta de participação, mas não tinha nenhuma força para acompanhar outras pessoas, parecia que eu era apenas mais um no meio da multidão. Eu ficava em casa assistindo tv, entre o conforto das palavras de meus pais e o medo do julgamento das pessoas desconhecidas. Detestava apresentar trabalhos escolares, nunca gostei de ser avaliado diretamente por alguém. Para os meus colegas eu era motivo de piadas, meu pseudônimo era sempre pronunciado “o esquisito”. Assim eram meus dias, fugindo das pessoas, dos encontros, da exposição. Havia conforto no não participar, mas momentaneamente, depois me sentia vazio. Eu tremia, suava e meu coração acelerava diante de situações novas, por mais que eu soubesse que aquela pessoa era tão igual ou parecida comigo, sempre achava que era ela quem detinha as melhores informações e me esquivava de dialogar. Passou o tempo e a minha tristeza já não cabia mais dentro de mim, era um vazio tão enorme que eu nem sabia a diferença entre alegria e tristeza. Eu era apenas um garoto quieto, mas queria ser muito mais, porém não me permitia. Amigos, namorada, trabalho, estudo, quase tudo tão distante quanto a possibilidade de se ter alegria. Resolvi que deveria encarar e mudar radicalmente. Peguei um dinheiro, comprei umas roupas e saí para as baladas. Eu bebi muito, experimentei uma droga qualquer e até consegui agarrar uma garota que estava tão bêbada quanto eu. Ali eu vi que poderia sair alguma coisa e comecei a fazer isso quase todos os dias, até que conheci uma garota muito especial e resolvi convida-la para sair e ela aceitou. Começamos a sair e eu deixei a bebida de lado, passei a me integrar ao grupo dela, a fazer o que ela me pedia, a comprar coisas para ela e acima de tudo, passei a sufocá-la. Ela me largou e eu entrei em pane, a tristeza voltou mais forte do que antes, eu chorava sem parar e passei a ser aquele “esquisito” novamente. Eu tentei me matar, mas pensei em meus pais que sofreriam muito com tudo isso. Eu não me conformava com tudo isso e passei a me questionar e a desesperadamente procurar respostas, entrei na internet e achei dezenas de possibilidades, mas acabei novamente em casa assistindo a televisão. Eu comecei a beber e a fumar. Arrumei um emprego e me dediquei a ele e também as noites, as garotas, as bebidas e as drogas. Aquela garota quis voltar e eu aceitei. Começamos a nos relacionar tendo como base os xingamentos e as cobranças e eu continuava infeliz.Talvez essa seja minha sina e eu jamais terei condições para mudá-la. Eu tenho certa fobia, não consigo ficar no meio de multidões sem suar, ter palpitações, vontade de sair dali. Penso no futuro e faço tudo para que nele eu esteja bem, mas nunca funciona. Eu tenho diversos medos: de errar na frente dos outros, de não conseguir trabalhar bem. Eu procuro evitar tudo que me leva a pensar que posso ser julgado, qualquer situação desconhecida acelera meu coração e me faz suar. Na internet isso está classificado como transtorno de ansiedade. Sinceramente acho que estou doente. Eu quero a cura, mas sozinho não consigo, não tenho a mínima vontade para mudar, acho que quero tudo pronto, mas sei que isso se torna impossível, só não sei se tenho tempo para esperar, pois não quero mais esse vazio dentro de mim. o MEU NOME: T.A. (TRANSTORNO DE ANSIEDADE)

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